segunda-feira, 23 de junho de 2008

Samba é religião


A proposta inicial era falar apenas de filmes e livros, mas aí percebi que há cenas do cotidiano que também merecem boas olhadas.

Como a do último sábado no Buraco da Catita. Para quem não conhece, é o bar aberto por Camilo Lemos e Cia. para desenvolver o Chorinho toda sexta-feira à noite. Mas o que me chamou atenção foi o sábado à tarde.

Eu e Rafael (meu namorido) sempre procuramos lugares que tocassem samba de raiz aqui em Natal, já tínhamos inclusive desbravado as ruas e ruelas das Rocas que é considerado por muitos o berço do samba na cidade. Mas a procura havia sido em vão.

Qual não foi nossa surpresa ao encontrar neste sábado, uma mesa imensa, com integrantes do Movimento de Preservação do Samba de Raiz das Rocas tocando o que há de mais original no samba.

A sensação de estar em um dos morros cariocas nas décadas de 70 e 80 tomou conta de mim. E acho que de todos que estavam ali, principalmente quando São Pedro deu uma ajudinha e levou todos a deixar a frieza dos paralelepípedos e ir ao encontro do calor daquele bar que o nome já reconhece: é um buraco.

Ficou melhor ainda quando, de entre eles, surge uma negra linda, que sem microfone nem nada, em um tom que em muito lembra Jovelina Pérola Negra, coordenava a “multidão” (de pouco mais de 50 pessoas), embriagadas pela nostalgia que os grandes sambas trouxeram.

Pois bem. Aquela belíssima cena ficou gravada na minha memória e com certeza me levará a descer as ladeiras em direção a Ribeira, religiosamente, todos os sábados.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Precisava desabafar

Quem leu o primeiro post sabe que esse aqui é sobre o livro Toquinho: 40 anos de música. Mas o que é importante colocar aqui é que na verdade esse livro foi o meu incentivo a criar o blog. Porque há livros que você lê e gosta e outros que não gosta. A maioria você guarda na estante ou devolve ao amigo que lhe emprestou. Mas há outros que precisam ser discutidos. É o caso deste.

Não. Não é um livro super rebuscado ou com conteúdo filosófico, mas algumas características têm que ser consideradas antes de sua leitura.

Ninguém pense que vai conhecer a vida de Toquinho lendo o livro, por dois motivos simples. O primeiro é que o livro é escrito pelo irmão do músico, João Carlos Pecci, que parece ter uma verdadeira adoração pelo irmão. O segundo é que a história é baseada nas histórias contadas pelo próprio Toquinho. Uma vez ouvi Ruy Castro (um dos maiores biógrafos da atualidade) dizer que biografia só presta se for não autorizada. E concordo com ele.

Ou seja, o livro mostra uma vida que parece ser um verdadeiro mar de rosas de um músico que se coloca desde a adolescência como genial e que “ajudou” músicos do calibre de Vinícius de Moraes e Chico Buarque. Pois bem, não sou fã ardorosa de nenhum deles, mas acredito que pelo pouco que eu conheço, eles não precisem de “mãozinha” de seu ninguém.

Entretanto consegui captar muita coisa legal do livro. Mais historicamente do que sobre música popular brasileira como era a minha intenção no início...

Só mais um probleminha: como o livro foi escrito pros 30 anos de carreira do cara e atualizado para os 40, os últimos seis capítulos são sacais. Exaltação da pessoa, do cara legal, do músico sem defeitos...

Enfim, só dá pra ler se estiver com o pé engessado e com a televisão quebrada (como era o meu caso). Tenho que procurar alguma coisa mais construtiva para seguir na minha pesquisa sobre a MPB.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Filmes que mudam opiniões

Essa semana assisti ao documentário de Miguel Faria Jr. sobre Vinícius de Moraes. Não foi a primeira vez, mas assistir um filme pela segunda vez aguça nossa visão sobre pequenos detalhes que passam despercebidos da primeira vez. Sem contar que da primeira vez que vi o filme, eu tinha outra visão sobre o “Poetinha”. Para mim ele era um depravado que havia deixado oito de suas nove mulheres para trás sem pensar em quanto elas podiam ter sofrido com isso. Besteira.

Qual não foi minha surpresa ao sair do cinema apaixonada por um homem que tentou durante toda sua vida amar. Amar no sentido mais amplo, sem se acostumar. Querendo beber cada dia mais da paixão que é o início de uma relação homem-mulher. (Saí também com uma baita vontade de encher a cara, mas aí é outra história).

Isso não teria nada a ver com o filme se não tivesse mudado a minha visão sobre o personagem principal. Mesclando as poesias de Vinícius, narradas melhor por Ricardo Blat que por Camila Morgado, com depoimentos daqueles que conviveram com Vinícius, incluindo familiares que tinham uma relação conturbada com ele, o filme mostra o poeta e compositor como ser humano.

O documentário, no meu ver, só errou na mão em colocar algumas poesias muito longas narradas pela, sem sal, Camila Morgado que acaba por tornar algumas partes cansativas, mas nada que as boas histórias de Chico Buarque (aos risos), Maria Betânia e Ferreira Gular não compensem.

Como diz o título, Vinícius serviu para mudar minha opinião sobre o homem Vinícius de Moraes (que em nada muda a história dele), mas também para me incentivar a pesquisar mais sobre a música popular brasileira.

O próximo post será justamente sobre isso, sobre o já lido: Toquinho, 40 anos de música.