quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Porque eu defendo a PEC do diploma


A aprovação em primeiro turno da chamada PEC do diploma pelo Senado na tarde de hoje colocou os defensores do diploma em oposição àqueles que defendem a liberdade de expressão no twitter. Aí resolvi parar pra pensar. Por que eu defendo o diploma para o exercício da profissão de jornalista?

Pra começar é bom dizer que eu demorei muito tempo para assumir um posicionamento quanto a esse assunto. Como eu sempre ouvia dizer que a defesa do diploma era pura e simplesmente uma reserva de mercado, eu achava desnecessário, uma vez que sempre acreditei que quem é bom tem seu espaço.

Daí surgiram aqueles que diziam que a defesa do diploma era em defesa da qualificação profissional. Que a formação é importante para manter o nível de qualidade do mercado. Pois bem, esse argumento também não me convenceu. Quem já conviveu nas redações, ou acompanha minimamente os portais da internet sabe que a qualidade dos textos jornalísticos está longe de ser algo real. E mais ainda, que muito dos que cometem os mais variados absurdos com a nosso língua portuguesa ou com o exercício da profissão passaram pela formação e ostentam seu diploma.

Então resolvi checar de onde vinha a necessidade de derrubar nosso diploma. E aí apareceu o que eu realmente estava querendo saber: a quem interessa não ser necessário algo que te coloque como parte de uma categoria? E a resposta é simples: aos donos dos veículos de comunicação.

Eles estão longe de estarem preocupados com a qualidade da informação pois quem já deixou o sonho de mudar o mundo através do “quarto poder” sabe que trata-se apenas de disputa de hegemonia. Os donos dos veículos são os donos do capital e é o seu ponto de vista que deve ser passado como informação imparcial. Para eles, vale muito mais colocar no ar uma modelo bonita ou um ex esportista que teve seus méritos de atleta cultuado por determinada rede de TV e, por consequência, não irá questionar políticas da empresa, do que alguém que se tiver tido uma formação humanista mínima na universidade, vá questioná-los.

Outra coisa que me assusta é lidar tão de perto com a realidade das empresas de comunicação, no meu caso especificamente no RN. Aqui, falta muito pouco para ser construído um pelourinho no meio das redações. Além de carregarmos o fardo de termos o menor piso salarial do país, as condições de trabalho nas redações do RN são assustadoras. É hora extra trabalhada e não paga, é horário de trabalho não cumprido, é acúmulo de função sob o pretexto de adequação às transformações de mercado. Tanto absurdo que mal dá pra elencar. Mas e o que isso tem a ver com o diploma? Não há mais categoria de jornalistas. Se não há categoria, não há luta trabalhadorXpatrão. A vontade do segundo é imposta sem problema.

Ainda apontaria aqui a necessidade de aumento do lucro. Argumento este que poderá ser visto por muitos como “lá vem a sonhadora socialista”. Mas, por que não posso ser reconhecida pelo meu trabalho no estado em que quero viver? Se as empresas se adequam ao mercado e a publicidade está aumentando cada vez mais seus lucros, por que eles não podem ser repartidos com quem faz o jornal?

Voltando só um pouco na história, para encerrar o assunto, não podemos confundir liberdade de imprensa com liberdade de expressão. Jornalismo é uma profissão como outra qualquer que exige técnica, talento, habilidade e prática. Para ser jornalista não basta escrever um artigo. Jornalismo é muito mais que isso.

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