quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sorria: você está sendo manipulado!


Sou jornalista, formada em comunicação social pela UFRN. Sei muito bem que apesar de quererem nos enfiar goela abaixo um discurso de que jornalismo tem que ser imparcial e coisa e tal, mas isso é impossível. É impossível ser imparcial. Isso porque por trás de cada matéria ou texto está toda sua bagagem de vida e as coisas em que acreditamos. Mas existem tomadas de posição que são descaradas demais.

Acabei de assistir ao programa partidário do PSTU. É preciso deixar claro, antes das considerações que não concordo com atitudes tomadas recentemente por este partido ao expulsar nomes históricos de seus quadros. Apesar disso, acredito no socialismo, sou contra a exploração dos trabalhadores e costumo trabalhar para participar de uma mudança efetiva na sociedade. Pois bem, feitas essas considerações, seguem observações.

O programa deixou claro quem está pagando pela crise, que ela não é tão pequena quanto pensam e que as demissões continuam. Mostrou números e matérias da grande imprensa para provar o que estava dizendo. Mas aí o programa terminou e Sandra Annenberg, que está substituindo Fátima Bernardes no Jornal Nacional deu a notícia: foram criados novos postos de trabalho, prova de que a crise está passando. Heraldo Pereira não podia ficar por baixo, a notícia seguinte era de queda na arrecadação do pobrezinho do Governo Federal, ou seja, não tem como fazer nada pelos trabalhadores.

Tá achando pouco? Eles acharam, mostraram que a China, ainda socialista, era o que estava levando o resto do mundo pro buraco e que o clima era tão bom em todo o mundo que todas as bolsas estavam em alta.

Enquanto eu ria sozinha de tamanho descaramento, eles arremataram com uma matéria muito bem feita pela jornalista Giuliana Morrone, que mostrou queda no pedido de seguro desemprego dos Estados Unidos. Isso mesmo, se a maior economia do mundo está reagindo, os bancos voltaram a ter lucros estratosféricos e, pasmem: devolvendo o dinheiro para o estado. Prova de que o capitalismo não depende do estado.

Muito me assustou eles saberem exatamente o que iriam rebater e programar exatamente as matérias certas para “rebater” o que o PSTU tinha acabado de dizer. Mas aí, por coincidência, eu tinha entrado no site do PSTU minutos antes da exibição do programa e já estava lá o programa, na íntegra. É claro que assim é mais fácil. Você sabe exatamente o que vai ter que rechaçar.

Bom, achei que precisava desabafar. Nós jornalistas sabemos bem que a forma como a matéria é feita ela pode ser positiva ou negativa, só é preciso pensar bem qual o lado que está ganhando com isso tudo. Ou você acha que o brasileiro de conhecimentos medianos sobre política e economia vai preferir acreditar num programa de péssima qualidade feito por um partido de esquerda ao invés do grande veículo Jornal Nacional.

sábado, 25 de abril de 2009

Minhas peripécias em Rio do Fogo


Sim, a foto aí em cima é de Rio do Fogo (pescada na internet e com crédito). Mas não. Não tem nada a ver com a história que eu vou contar. Segue:

Desde a última eleição municipal, em Natal, eu achei que já havia visto os maiores horrores da política. O vereador mais votado é um apresentador de televisão palhaço, que não se comove nem um pouco com a perda de milhares de vidas que ele noticia em seu programa dançando agarrado a uma garrafa de vinho. A bonitinha gostosa, que nos três primeiros meses do ano mal apareceu na Câmara porque, por certo, achou q o veraneio só terminava em março. Isso sem falar na reeleição de vários indiciados pela Operação Impacto, que provou a venda de votos na votação do Plano Diretor de Natal.

Pois bem, já deu pra perceber que parecia que já tinha visto todos os tipos de anomalia política. Mas aí, fui convidada pelo diretor Paulo Martins, do Sindsaúde a cobrir um ato público em Rio do Fogo onde, dizia ele, o prefeito havia demitido 135 servidores concursados do município e, colocou em seu lugar outros, sem concurso público, provavelmente, seus afilhados políticos.

Pois bem, devido à chuva e uma decisão judicial que chegou em cima da hora a manifestação foi desmarcada. Mas ficamos para acompanhar a sessão da Câmara onde seria dada a boa notícia aos servidores.

Os sustos começaram no início da sessão, ao entrar em um galpão, cheio de cadeiras brancas, daquelas de plástico que a gente senta nos bares, e o local de plenária dos vereadores repleta de carteiras, daquelas de colégio, onde os vereadores sentaram em forma de “U”. De certa forma, o susto passou depois da ponderação: realmente o dinheiro público é para ser investido na cidade, em melhorias para a população não em ostentação em Câmaras bonitas, mas....

A sessão foi aberta pelo presidente da casa. Aos poucos descobri que ele era filho do prefeito. Um cara bem apessoado. Diria até bonitão. Não mais que 25 anos. Moreno. Cavanhaque. Brinquinho na orelha. E que dava uma piscadinha para todas as meninas que entravam na Câmara.

O púlpito só foi usado pelo secretário parlamentar para a leitura da Ata da sessão e outros atrasos na leitura da decisão judicial. A Ata, por sinal, não foi aprovada. O engraçado é que o “líder da oposição” um homem com cara de cachaceiro e vermelho, que chega dava medo da pressão dele tá uns 30 X20, não aprovou porque votou contra um projeto aprovado na sessão anterior. Ou seja, ele queria votar de novo. Mas a Ata não é para registrar os acontecimentos da sessão? Enfim, ele convenceu outros três, aos quais ele chamou de “minha bancada” a votar contra. Inclusive uma mulher que havia acabado de chegar e após dar boa tarde a todos disse logo: sou contra.

As enrolações continuaram. Foi lido todo o regimento interno que seria modificado pela Comissão de Constituição e Justiça. Nessa mudança, uma me chamou atenção. A Casa só tinha uma sessão por mês. Na última sexta-feira, às 16 horas. Pois isso irá mudar, chegando a NO MÁXIMO quatro por mês e nas quartas-feiras, às 19 horas. Não é o MÁXIMO? Sem comentários.

Aos pouco descobri outros parentescos. O vice-prefeito, que por sinal é funcionário do Walfredo Gurgel e sócio do Sindsaúde, estava presente na sessão, onde foi acompanhar sua esposa, que é vereadora na cidade. Um dos vereadores da oposição é soldado da polícia militar. Por ironia foi à sessão com a viatura de trabalho. Uma moto da Rocam que ficou todo o tempo estacionada na porta da Câmara.

Enfim, houve outros momentos engraçados como quando um vereador que foi defender um requerimento dizendo que ele deveria ser aprovado por ser muito bom, à La Lady Kate. Mas isso dá pano pra outra história que depois eu conto. Até porque a volta pra casa foi outra aventura....

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Lições pra toda vida

Perdoem-me os poucos mas fiéis seguidores deste blog. Momentos conturbados me fizeram abandoná-lo, mas pretendo voltar com força total. Com atualizações quase que diárias e textos sobre o que realmente gosto de falar: livros e filmes. Obrigada pela visita.







Lições pra toda vida

Vi ontem o dia (26/01/09) ser noticiado por vários jornais e sites como um “dia de terror” para milhares de trabalhadores do mundo depois que algumas das maiores empresas globais anunciaram a demissão de 53 mil funcionários. Pois bem, não é nenhuma novidade a crise que o mundo vem enfrentando, as demissões e falências que estão sendo pagas às custas do suor do trabalhador, mesmo tendo sido criadas pela burrice do capitalismo desenfreado. Mas isso é assunto para outro texto.

O que quero realmente lembrar é que em um dia como ontem, milhares de trabalhadores desempregados aqui no Brasil não tinham outra coisa a fazer a não ser assistir a companheira de tantas noites insones, ou seja, a famigerada Rede Globo. Pois bem, confesso que tinha outras opções, mas acabei conferindo o filme da Tela Quente: As loucuras de Dick e Jane. Um filme que poderia nada mais ser do que um besteirol americano, permeado pelas caras e bocas exageradas do eterno Máscara, Jim Carrey, se não fosse seu roteiro.

O filme tratava de um casal que se vê na miséria depois que a empresa em que o personagem principal, Dick Harper falia e deixava a família de classe média alta sem nada. Tem também um detalhezinho machista quando a mulher do personagem principal abandona seu emprego porque o marido ganha muito bem, mas isso também deixo para outro texto.

Voltando ao filme, no meio da crise, com milhares de desempregados, adivinhem qual a solução dos personagens? Viram bandidos. Isso mesmo, assaltantes. Conseguem recuperar tudo que tinham só roubando.

É claro que no final como todo “bom” filme americano que se preze tudo fica bem. Dick “rouba” o dinheiro do único que tinha se dado bem com a falência da empresa, o dono, e devolve aos funcionários, como um bom americano.

Mas a questão é, não teria outro dia para passar o filme? Eu já vi a Globo mudar o filme da Tela Quente inúmeras vezes. Inclusive deixar de exibir alguns que eu gostaria de ver. Acho que a crise deveria ter sido motivo para que o filme não fosse exibido quase que em horário nobre. A impressão que dá é que o veículo de comunicação não sabe a força que tem nem o público que atinge. Vivemos em um país cheio de desigualdade e o incentivo ao consumo já nos leva a uma violência desenfreada. Exibir pessoas, que mesmo vivendo uma realidade diferente, conseguem se dar bem às custas de roubos e ilegalidades não é uma boa lição em tempos difíceis como estes.

A Globo já virou mania na minha televisão, mas luto contra isso diariamente. Depois desse episódio vou pensar um pouco mais antes de sintonizar o 19 na TV.