Há alguns anos eu fui repórter policial do Diário de Natal. Sou bem influenciável e ver todas aquelas tragédias diariamente estavam acabando comigo. Por isso resolvi pedir pra sair, e como não me deixaram trocar de editoria, pedi pra sair do jornal mesmo. Foram dois anos entre Cidades e Polícia, e um caso me marcou muito: o assassinato da dona de casa Andréa.
Ela foi morta pelo companheiro, um sargento da aeronáutica que negou qualquer participação no crime até o dia em que o corpo da mulher foi descoberto enterrado no quintal da sua casa. Todos nós, repórteres policiais, nos envolvemos bastante com a história. Os requintes de crueldade como tê-la escondido na geladeira da casa, e enterrado o corpo duas vezes, sendo uma no quintal da casa em que a filha de ambos, de apenas um ano dormia, foi extremamente chocante.
Lembrei dessa história depois que os detalhes da morte da modelo Eliza Samudio começaram a vir a tona. Por enquanto o crime é tratado como desaparecimento, pois sem corpo não há crime. Essa foi uma das coisas que descobri ao participar da cobertura das investigações da morte de Andrea. O delegado responsável, o competentíssimo Raimundo Rolim, não sossegou enquanto não encontrou o corpo.
Lembro de uma tarde sem pauta, em que meu chefe me pedia novidades sobre o caso, em que eu saí da redação em destino à Cidade Verde, onde a mulher foi assassinada. Encontro então com a equipe do delegado fazendo buscas nas matas que rodeiam o bairro. É incrível como eles não descansaram até encontrar. Depois, ao fazer até amizades entre os policiais, ouvíamos histórias de vários deles que sonhavam com o caso e com a vítima tentando apontar onde estaria seu corpo.
Outra coisa que me faz achar semelhanças entre os casos é a presença de uma criança no caso. Na história de Andrea que havia sido empregada na casa da família do então marido, a ameaça de levar a criança para longe após o preconceito da família se tornar insuportável, foi o estopim. No caso de Elisa, o fato dela ter participado de programas e filmes pornográficos foi usado por alguns para quase “justificar” a morte.
Eu acredito que todos somos assassinos em potencial. É. A raiva faz de nós seres irracionais em alguns momentos da vida. Mas é o que fazemos depois deste ano que nos diferencia. Cortar uma pessoa em pedaços e servi-la aos cachorros, guardar sua mulher na geladeira, enterrá-la em uma área militar, desenterrar e enterrar de novo no quintal de casa. Isso sim é o grande crime.
Sem contar que tais crimes foram cometidos por pessoas em quem elas confiavam, chegando até mesmo a viver sob o mesmo teto (nesse caso muito mais Andrea que Elisa).
Até quando vamos ver barbáries desse tipo serem punidas de forma tão branda? Andrey, o sargento, ainda não foi julgado e cumpre prisão preventiva na base aérea. Bruno, sabemos que a força do dinheiro irá tirá-lo da cadeia em no máximo 10 anos. As crianças.... Bem, nessas, só conheceremos os danos no futuro.
Um comentário:
Temos o potencial para muitos atos, mas sempre temos a escolha.
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