domingo, 28 de novembro de 2010

Jornalismo Policial - queria tá subindo o morro do Alemão

Gente, acompanhando a cobertura que a imprensa carioca me bateu uma imensa saudade da época em que estava em campo, na editoria de polícia do Diário de Natal. Essa sem dúvida, é a editoria mais fascinante do jornalismo. Pois vivenciamos o que é "quente" na notícia, além é claro, das investigações e das atividades juntos à fontes.

Depois que aderi ao twitter me tornei a rainha das promoções, já ganhei senhas pra cinema, depilação, senha de festa, mas com certeza o que mais gostei foi o livro "Jornalismo Polícial-histórias de quem faz". São entrevistas com 17 profissionais da área produzidos por alunos de jornalismo da Uniban e organizado pela professora Patrícia Paixão.

As entrevistas são bacanas, mas considerei-as superficiais. Tem mais um tom de exaltação aos profissionais do que de questionamento mesmo. A pauta ficou extremamente engessada, pois as perguntas não deveriam ser as mesmas para profissionais tão diferentes.

Fácil identificar os bons profissionais, os que usam da profissão para ter status e os que realmente fazem o que amam. Virei fã de alguns e tomei abuso de outros. Vale a pena ler. Agora vou assistir mais sobre a guerra no rio e sonhar que subi o Almão na hora do hasteamento do pavilhão nacional. Selva!

O morro desceu

Como já tinha falado há alguns posts estava lendo o livro sobre a história das canções de Paulo César Pinheiro. E durante essa semana em que o Rio de Janeiro, minha terra de coração e de certidão de nascimento, viveu uma guerra civil explícita, uma das canções me chamou a atenção. Ele mesmo que também fez uma belíssima canção sobre os nomes das favelas do Rio que estavam perdendo a poesia, falava no samba "O dia em que o morro descer e não for carnaval" sobre o que acontecia.

No texto em que ele explica como fez a música fica claro o quanto era previsível que isso acontecesse. Ele fala sobre o quanto as comunidades são esquecidas pelo poder público, e o quanto elas passam a fazer parte do espetáculo que é o carnaval e que atrai turistas do mundo inteiro. Ele questiona o que aconteceria se todo aquele povo, esquecido e à margem da sociedade resolvesse descer o morro e "tomar sua parte" do que produzia.

Uma música profética, como várias outras que fez durante sua vida. Ainda bem, que na vida real, pelo menos por enquanto, a polícia venceu.

O dia em que o morro descer e não for carnaval
Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro

O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(é a guerra civil)

No dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal
o tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval

O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual

Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vou deitar e rolar (quaquaraquaquá)

Paulo César Pinheiro e Baden Powel

Não venha querer se consolar
Que agora não dá mais pé nem nunca mais vai dar
Também quem mandou se levantar
Quem levantou pra sair perde o lugar
E agora cadê teu novo amor
Cadê que ele nunca funcionou
Cad~e que ele nada resolveu
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
(Que inda sou eu)

Você já entrou na de voltar
Agora fica na tua que é melhor ficar
Porque vai ser fogo me atuear
Quem cai na chuva só tem que se molhar
E agora cadê, cadê você
Cadê que eu não vejo mais, cadê
Pois é, quem te viu e quem te vê
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu

Todo mundo se admira
Da mancada que a madamezinha deu
Que deu no pira
Mas ficou sem nada ter de seu
Ela não quis levar fé
Na virada da maré
Mas que malandro sou eu pra ficar
Dando colher de chá
Se eu não tive colher
Vou deitar e rolar
O vento que venta aqui
É o mesmo que venta lá
E volta pro mandingueiro
A mandinga de quem mandingar

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vida de jornalista

Ser jornalista no Brasil não é fácil. No RN ainda acho pior. Isso porque estamos em um estado com uma população relativamente grande, mas que ainda vive com uma mentalidade de província. Aqui, o jornalismo defende ideiais políticas. Nao que isso seja errado, o errado é isso não ser dito de forma clara e objetiva à sociedade. Estamos sempre tentando burlar o patrão para colocar o interesse do povo em primeiro lugar, o que é bem difícil.

Aqui também enfrentamos o pior piso salarial do Brasil. Muitos dirão que pelo menos o custo de vida por essas bandas não é dos mais altos, viver com R$ 2 mil em Sampa deve ser pior que viver com os R$ 900 aqui. Mas e cadê a nossa valorização profissional? Eu pelo menos fiz um curso superior, numa área que escolhi e gosto de trabalhar, pra saber que o valor médio pago no mercado é de menos de dois salários mínimos? Parece piada.

Todos os dias saímos de casa sem saber que pauta iremos trabalhar, por isso "meu filho", diria o editor, venha sempre bem vestido. Mas nossa... São só R$ 900 para o aluguel, o busão, a alimentação e ainda tenho que vir arrumadinho?

É. Cada profissão tem sua peculiaridade. Nós jornalistas temos as nossas. Desde que entramos na universidade vem alguém dizer: "jornalista é jornalista 24h por dia, não tem essa de horário de expedinte". Ei, mas somos trablhadores. Precisamos nos qualificar, precisamos de qualidade de vida, nem mesmo a boemia de tempos atrás conseguimos manter pois falta a grana da cerva e o tempo pra jogar o papo fora na mesa do bar, pois para conseguir manter a dignidade, cada um de nós tem, no mínimo, dois empregos.

Nós, jornalistas do RN, estamos em campanha salarial. Nossos amados patrões acham que estamos bem demais, pois isso nos oferecem R$ 31,50 de aumento, além disso a gente anda descansando muito, pra que 4 folgas por mês? Uma tá de bom tamanho... E receber pra viajar? Ora, faça-me o favor. Quantos não gostariam de ter um trabalho que viajasse como o de vocês. ô povo pra reclamar de barriga cheia.

Nossa luta hoje é muito mais que salário. Nossa luta é contra a afronta que nos está sendo feita. É contra o absurdo que é o assédio moral que enfrentamos diariamente nas redações. É contra o abuso de poder dos que até ontem eram nossos colegas repórteres como nós.

Depois que entrei nessa luta já ouvi muita coisa. "Pra quê se meter nisso? Você não ganha só isso mesmo." ou "Você vai se queimar no mercado". É. Pode ser que tenham razão. Mas pra mim, ou mudamos essa realidade agora ou eu mudo de profissão. Porque um gari por essas bandas ganha R$ 1 mil. E podem ter certeza, medo do trabalho eu não tenho.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Parceria

Paulo César Pinheiro

Parceria é um casamento, mas que dura...
Porque na parceria não há jura
Não há promessa de fidelidade
se, em plena criação, alguém lhe atrai
Você diz ao parceiro, e você vai...
E volta a ele quando dá saudade.

Porque ele também não se magoa,
Pois sempre sai alguma coisa boa
Quando na música se prevarica.
Um samba, uma modinha, numa toada,
Depende muito de cada transada,
Mas se é bem dada é uma canção que fica.

Parceria é um casamento que não cansa
Porque não tem contrato e nem cobrança
Ciúme tem... mas isso é passageito.
Quem é traído, muita vez reage
Propondo aos dois fazer uma menage
No instrumento do próprio parceiro.

Mas brincadeira à parte, a parceria
É uma amizade que se faz um dia
E não se rompe por qualquer besteira
É o desejo ardente da poesia
Que vai pra cama com a melodia
Deixando frutos pela vida inteira,

De volta

Coisa maravilhosa é redescobrir o prazer dos livros. É voltar a fazer coisas que tanto gostamos depois d eum tempo de escuridão. Voltei pros meus livros maravilhosos. É. Nada muito profundo, por enquanto, mas tem me aberto o mundo novamente.

Comecei pela indicação da psicóloga, Comer, Rezar, Amar, da ELizabeth Gilbert. Bem água com açúcar, mas bacaninha. Combinou com meu momento e me fez morrer de inveja da protagonista que pode sumir por uns tempos...hehehe

Aproveitei o embalo e assisti o filme com a Julia Roberts. Muito ruinzinho. O livro já é bem mediano, o filme não chega aos pés. Narrativa enfadonha e as mudanças que foram feitas no roteiro para tornar a história um pouco mais cinematográfica deixaram muito a desejar.

Depois parti para o romance Somos Todos Inocentes do espírito Lucius, psicoghrafado pela Zíbia Gasparetto. A história muito boa. Pra quem acredita na doutrina é uma verdadeira aula de como as coisas se encaixam e como tudo tem um porquê. Pra quem não curte muito e não segue a religião, vale a pena pela narrativa bem amarrada e a história de tirar o fôlego, apesar do final bastante previsível.

Hoje me entreguei ao História das minhas canções, de Paulo César Pinheiro. Simplesmente sensacional. A cada música me apaixono mais pelo poeta e me identifico com suas canções. Devo terminá-lo antes de domri, pois ainda não consegui parar de ler. Meio atolada na nossa campanha salarial, que está me pedindo um texto para esse espaço, mas só depois que meu poeta me colocar pra domrir.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

E fim...

Vamos Deixar De Intimidade

(Ary Barroso)

Mulher
Vamos deixar de intimidade
Entre nós, mais nada existe
Nem o amor, nem a saudade

Mulher
Vamos deixar de intimidade
Entre nós, mais nada existe
Nem o amor, nem a saudade

Tu juraste, certo dia
Aos meus pés cinicamente
Que o amor não morreria
Ele foi, zombou da gente
Mas veio outro
Me puseste na rua
Eu também não me incomodo
Minha vida continua

Mulher
Vamos deixar de intimidade
Entre nós, mais nada existe
Nem o amor, nem a saudade

Mulher
Vamos deixar de intimidade
Entre nós, mais nada existe
Nem o amor, nem a saudade

Um amor que a gente perde
É semente de outro amor
Se pra tudo tem remédio
Também tem remédio a dor
Ah, o meu santo que me guarda
É muito forte
Se me livrou dos teus olhos
Também me livra da morte

sábado, 6 de novembro de 2010

Atrasos

Depois de anos sem aparecer por aqui, continuo sem tempo para aparecer por aqui. Mas queria devidir com vocês este texto bem bacana que recebi pelo tuite. Bem, eu realmente sou a favor da criação de um consleho, mas ainda precisa haver muitas discussão a respeito. É bom que as pessoas não se enganem. Há censura sim nos dias de hoje. A censura do capital. Dos donos do poder. E não é a sociedade, pode ter certeza. Mas enfim segue abaixo o texto. E quem quiser conhecer melhor o autor é só dar uma passada no blog: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/

Quem fiscaliza o fiscal?
Por Paulo Nogueira

Há, na Inglaterra, uma guerra fria entre os políticos e os jornalistas que cobrem política. Os políticos entendem que os jornalistas não receberam mandato da sociedade – votos, em suma – que lhes dê legimitidade nos comentários ou nos debates.

Em seu bom livro sobre jornalismo, My Trade, ou Meu Ofício, Andrew Marr, editor de política da BBC, detém-se longamente nesta discussão. Há alguma coisa nela, feitas as devidas adaptações, que vale para o Brasil.

Quais os limites do jornalismo e dos jornalistas?

Vejamos a Folha de S. Paulo, por exemplo. Ela procura se colocar, em editoriais e em publicidade, como uma espécie de fiscal sagrado dos governos. Tudo bem. Mas é preciso não perder de vista que ela não recebeu essa incumbência da sociedade.

Não foi votada. Não foi eleita.

Fora isso, existe fiscal que não é fiscalizado?

Jornalismo é, como todos os outros, um negócio. Em geral, quem investe em jornalismo não está atrás de dinheiro. Os lucros não costumam ser grandes. O que o jornalismo dá é prestígio, influência. Empresários interessados em recompensas mais palpáveis fazem suas apostas em outras áreas. No começo da década de 2000, quando a internet já desaconselhava investimentos em papel no Reino Unido, um empresário russo comprou o jornal inglês The Evening Standard, em grave crise financeira, examente por isso: para ganhar respeitabilidade.

É um jogo antigo.

Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da Folha, estava desencantado porque se julgara traído pelos jornalistas que fizeram a greve de 1961. (Meu pai era um deles.) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.” Na biografia, a coleção de fotos de Frias ao lado de personalidades mostra que o objetivo foi completamente alcançado. Um granjeiro não estaria em nenhuma daquelas fotos.

Sendo um negócio, o jornalismo não está acima do bem e do mal. É natural que prevaleçam, nele, as razões de empresa. Essas razões podem coincidir com as razões nacionais – ou não. Observe o mais carismático – não necessariamente o melhor ou mais escrupuloso – empresário de jornalismo da história do Brasil, Roberto Marinho, da Globo. Quem garante que o que era melhor para ele era o melhor para o país? Roberto Marinho era tão magnânimo a ponto de pôr os interesses nacionais à frente dos pessoais?

Como a sociedade não elegeu empresas jornalísticas, seus donos não têm que dar satisfação a ninguém sobre coisas como o uso dão ao dinheiro que retiram. Se decidem vender o negócio, nada os impede. Essa é a parte boa de você não ter um vínculo ou uma delegação direta da sociedade. Não existem amarras burocráticas para seus movimentos. Mas você não pode ficar com a parte boa e dispensar a outra – a que não lhe garante tratamento privilegiado apenas por ser da imprensa. Liberdade de expressão não é um conceito que tenha valor em si e sim dentro de um contexto. Na Inglaterra, você não pode publicar um artigo que exalte o terror islâmico, por exemplo. Mesmo no célebre Speaker’s Corner – o canto no Hyde Park tradicional por abrigar qualquer tipo de manifestação de gente que suba num caixote ou numa escada – se você louvar Bin Laden é preso assim que pisar no chão.

No Reino Unido, a mídia é acompanhada, como toda indústria. Há, por exemplo, um órgão regulador independente para a tevê e para o rádio, o Ofcom. A independência é vital. Se o Ofcom fosse manipulado por interesses políticos, seria um problema e não uma solução. Também não prestaria para nada se fosse controlado pelas próprias emissoras. Em poucas atividades há tanta autocomplacência como na auto-regulamentação. Outro fator relevante no acompanhamento da mídia entre os britânicos é a existência de grupos de pressão como o Mediawatcher, uma associação de espectadores que esperneia sempre que acha oportuno.

É curioso que não haja nada desse tipo no Brasil. As pressões do público são desogarnizadas, como vimos, por exemplo, no movimento que sugeriu a Galvão Bueno calar a boca.

Jornalismo é um negócio como todo outro. Apenas, em vez de vender sabão, você vende notícias e análises. Isso dá prestígio – mas não pode dar imunidade. Um modelo de acompanhamento semelhante ao britânico – em que não exista manipulação política do governo, como acontece em ditaduras – seria um avanço para o Brasil. Não se pode confundir acompanhamento com censura: os brasileiros ainda têm clara na memória a agressão ao noticiário sofrida na ditadura militar, e sabem o que aconteceu em países como a Rússia. Mas nada disso pode servir de impedimento para uma discussão adulta que eventualmente conduza da auto-regulamentação para uma regulamentação independente nos moldes da britânica.

Há dois grandes desafios aí. Um é vencer a resistência da mídia em sair da área de conforto da auto-regulamentação. Devem prevalecer aí não os interesses particulares e sim os do país. O outro é neutralizar a tentação dos governo de tomar a si um acompanhamento que só faz sentido se for genuinamente independente.